No dia 10 de setembro, às 21h, o Dr. Khosrow Adeli, Chefe de Bioquímica Clínica do Hospital for Sick Children e o Vice-Presidente de Laboratório de Medicina e Patologia da Universidade de Toronto em Toronto, Canadá, apresentou o “Estudo multicêntrico global sobre Intervalos de Referência: o projeto Caliper”. 

O projeto Caliper iniciou há 15 anos e é hoje o maior banco de dados de Intervalo de Referências na área de pediatria, com grande alcance no mundo. Possui diversas faixas etárias e população multiétnica. Adeli lembra a importância de definir os intervalos de referência na medicina laboratorial pediátrica e a grande dificuldade, uma vez que é necessária uma grande população saudável para participar do estudo.  

Ele exalta a importância dos profissionais de laboratórios como parte fundamental da equipe multidisciplinar para identificar fatores de risco e sintoma de doenças e determinar o tratamento apropriado e ainda para avaliar a resposta ao tratamento. 

Também é importante prezar pela qualidade dos serviços laboratoriais, mais além dos controles internos e externos é preciso valorizar a qualidade pós analítica, e para isso é necessário Intervalos de referência apropriados e atualizados. 

Os Intervalos de referência são marcos associados à saúde que ajudam na tomada de decisão clínica e algumas populações, como no caso a pediátrica, são difíceis de alcançarem uma grande quantidade de amostras. 

“Por isso o Caliper se tornou tão importante e seu banco de dados é utilizado por hospitais e laboratórios do mundo todo, pois estamos conseguindo sanar diversas lacunas no campo pediátrico”, comentou Khosrow. 

O Caliper mede as gestantes, com as importantes alterações que ocorrem durante a gravidez (mudanças de níveis hormonais, função tiroidiana, débito cardíaco, alterações imunológicas) e na infância, considerando as diversas mudanças importantes que ocorrem durante o crescimento (alteração rápida de peso, crescimento, anemia fisiológica). Ele lembra que a criança duplica o seu peso corporal nos primeiros 6 meses e triplica esse peso até um ano de idade. 

Além disso, os órgãos crescem e acontecem mudanças importantes na puberdade que incluem crescimento acelerado e maturidade sexual.

Adeli falou ainda, que a função fisiológica e o desenvolvimento das diferentes faixas etárias são importantes, não é possível ter um intervalo de referência único para esta população. Por isso, um dos objetivos do Caliper foi montar um banco de dados abrangente de intervalo de referência estratificado por covariáveis – especificidade de idade, sexo e etnia, que é totalmente gratuito. Ele pode ser acessado pelos sites calliperproject.org e caliperdatabase.org ou ainda por um aplicativo – caliper reference.  

Além das covariáveis, todo marcador tem seu padrão próprio na criança. Por exemplo, o IMC contribui bastante no aumento do nível de ALT, então não podemos deixar de levar isso em conta ao interpretar os resultados laboratoriais das crianças.

Pela variedade de marcadores, o Caliper já fez mais de 70 publicações distintas, divulgando os resultados, o que auxilia a interpretação sobre o paciente para médicos, consultórios, pediatras, especialmente em áreas remotas. No caso do app, há ainda a facilidade de não precisar estar conectado à Internet no momento do uso. 

Ele finalizou a sua participação deixando um convite para os laboratórios brasileiros que tiverem interesse em colaborar.

Coordenada pela Dra. Paula Fernandes Távora, ex-presidente da SBPC/ML e sócia fundadora e diretora médica da Vacsim, a mesa redonda “Inteligência artificial em Medicina Laboratorial: exemplos práticos”, realizada no dia 10/9, trouxe uma série de informações importantes de como os laboratórios brasileiros têm usado a Inteligência Artificial (IA) como um protagonista na maior agilidade e precisão diagnóstica dos pacientes, bem como oferecer serviços personalizados a cada um deles. O Machine Learning foi outro ponto forte abordado.  

O bacharel em Estatística pela Universidade de São Paulo e mestre em Economia de Empresas pela FGV-SP, Hommenig Scrivani falou sobre o Impacto da IA na jornada do paciente”. Ele explicou que a IA se faz da inteligência humana e o desenvolvimento é feito de maneira artificial.  

Um exemplo simples: um paciente chega ao hospital e a atendente faz a triagem, as perguntas básicas e direciona a pessoa para um guichê específico. Usando a IA, ao utilizar um totem, o paciente pode responder a essas perguntas com apenas toques e já ser direcionado ao guichê correspondente. 

Em outra situação, no caso de um paciente com câncer de próstata, pode-se desenvolver um Machine Learning para entender o caso dele. Assim, será mostrado o volume prostático por meio de algoritmos que auxiliarão o médico no diagnóstico. 

“Fazer a operabilidade de dados ajuda tanto o médico quanto o paciente. Eles mostram a idade, gênero, respostas da saúde mental e exames realizado anteriormente. O paciente pode receber um alerta para repetir exames no momento necessário a pedido do médico por meio de uma ativação feita pelo profissional” destacou Hommenig. 

Edson Amaro, especialista do Hospital Albert Einstein, explanou sobre o “Uso da IA no ambiente hospitalar”. Ao iniciar sua apresentação, ele salientou que a indústria de telecomunicação, entretenimento e financeira já atuam com Big Data há alguns anos, porém a área da saúde a saúde ainda está atrasada na adoção de novas tecnologias. 

Sobre o uso da tecnologia na saúde, ele mencionou sua própria experiência.

“No Einstein, visamos três esferas centradas no indivíduo: a biologia, quando focamos em dados relativos a microbiomas, DNA, RNA, metaboloma e organismos que estão conosco; ambiente, baseado nas relações do dia a dia com o meio ambiente, nível de educação do indivíduo, contexto socioambiental, populações com menos acesso ao transporte, comportamento, relações dos pares dentro das redes sociais, dados nutricionais; e comportamento, ou seja, a relação com o contexto externo, polifarmácia, quantidade de medicamento de acordo com o comprometimento do paciente”, explicou o especialista. 

“O nosso comportamento é muito registrado pelos ambientes digitais, como no caso do Google e da Netflix, e em saúde isso é fundamental. A ideia estratégia no uso de Big Data visa organizar a iniciativa para extrair valor de dados da cadeia de saúde e o uso médico dessas ferramentas requer uma curva de aprendizado do médico. Nada vai fazer sentido se o médico não for treinado e não estiver confortável com essas ferramentas. Ele precisa ter uma cultura de uso de dados”, acrescentou Edson. 

Sobre Analytcs, o profissional diz que é possível se ter uma ideia do que vai acontecer, porém, pondera: “não é fácil tomar decisões hoje a partir do que pode acontecer no futuro”. 

Ao longo da Mesa Redonda, foi feita a apresentação do “Desenvolvimento de sistema de redes neurais convolucionais profundas para identificação de células em sangue periférico”, por Paulo Henrique Orlandi Mourão, médico Patologista Clínico Hospital das Clínicas da UFMG – Ebserh. 

Ele salientou que essas redes se tornaram mais populares em 2021. Este ano, uma rede convencional chamada ImageNet, comporta de 100 classes de imagens, participou de uma competição e venceu por uma diferença grande em relação a outros sistemas baseados em outras tecnologias e isso acendeu um interesse significativo nas redes neurais convencionais. 

“Em 2017, o vencedor da competição teve um erro de 2,3%. Em comparação a um humano, o erro é em torno de 5%. Nessas competições, a participação dessas redes é melhor do que de humanos. A área médica tem tido um vasto interesse e de uma forma geral os artigos mostram que essas redes têm um desempenho equivalente a experts da área”, destacou Paulo. 

Por fim, diretor Executivo de TI, Inovação e Digital do Grupo Hermes Pardini, João Vicente Alvarenga, falaram sobre “IA e ferramentas de Analytics na gestão de laboratórios clínicos”. Ele apontou que hoje, 89% dos exames do laboratório são 100% automatizados. Por mês, são processados 16 milhões de exames sem erro e sem o Machine Learning isso seria impossível. 

“Ao longo dos últimos três anos desenvolvemos outras aplicações de IA para covid-19 com exames de imagem, o que gerou a primeira parceria da Google com raio x e ressonância magnética. Isso pode não fazer muto sentido agora, mas no início da pandemia faltavam reagentes para exames estratégicos”, explicou João Vicente. 

Outro exemplo é o Protocolo Stroke (AVC), uma IA de detecção do que é ou não um AVC hemorrágico. Parece algo simples, mas pode salvar vidas. Há outros tipos de inteligência usada hoje, que atende 6.000 laboratórios com seus códigos específicos. 

“Antes gastava-se muito tempo para fazer a correlação do parceiro e a IA automatizou isso acontece em segundos”, comentou o diretor. 

Alvarenga finalizou sua apresentação falando sobre a aposta do Grupo Pardini. 

“É a medicina personalizada, um tratamento específico para cada paciente. Hoje, temos condições, por meio de Machine Learning, de obter históricos do paciente e isso permitirá fazer o cruzamento de dados para encontrar achados científicos em exames que ele fez ao longo da visa com laudos atuais. E isso permitirá oferecer um tratamento personalizado e ações preventivas para o paciente”, explicou João Vicente.

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) anuncia os títulos dos Temas Livres premiados durante o seu 2º Congresso Virtual. A premiação de cada trabalho foi de R$1.000,00 e os autores e coautores ganharão a inscrição para o 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, que será realizado de 3 a 7 de outubro de 2022, no Centro de Convenções Centro Sul, em Florianópolis (SC). 

“Por mais um ano, recebemos trabalhos de altíssima qualidade. Aproveito a oportunidade para elogiar e agradecer a todos os que participaram e que, ainda que não tenham sido contemplados nesta edição, poderão apresentar novos títulos no próximo congresso. Sem sombra de dúvidas, os trabalhos serão muito enriquecedores para a toda a Patologia Clínica e Medicina Laboratorial”, explicou a Dra. Silvana Maria Eloi Santos, coordenadora dos Temas Livres do evento.

Confira abaixo a lista dos trabalhos vencedores e os respectivos prêmios recebidos:

Título: Impacto na vigilância epidemiológica com a implementação do teste de o.k.n. nas áreas assistenciais de um complexo hospitalar.

Autora: Aline Fossá.

Coautores: Everton Inamine, Cristiani Gomes de Marques, Cláudia Figueiredo de Meirelles Leite, Camila Mörschbächer Wilhelm, Jéssica Nesello dos Santos, Juliana de Alexandria Machado, Ionara Ines Kohler.

Instituição: Santa Casa de Misericórdia, Porto Alegre.

Prêmio: Prêmio Dr. Caio Marcio Figueiredo Mendes.

 

Título: Análise de mediadores imunes circulantes em pacientes com insuficiência renal aguda (IRA) secundária à COVID-19.

Autora: Thalia Medeiros Tito Avelar.

Coautores: Gabriel Macedo Costa Guimarães, Fabiana Rabe Carvalho, Renan da Silva Faustino, Ana Carolina Campi Azevedo, Vanessa Peruhype Magalhaes Pascoal, Jorge Reis Almeida, Andrea Alice da Silva.

Instituição: Universidade Federal Fluminense .

Prêmio: Prêmio Dr. Paulo Guilherme Cardoso Campana.

 

Título: Uso de formulário virtual para melhoria de gestão da qualidade de glicosímetros.

Autora: Raquel Weber.

Coautores: Juliana de Paoli, Marilei Wolfart, Daniel Writzl Zini, Ricardo Machado Xavier.

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Prêmio: Prêmio Dr. João Nilson Zunino.

 

Título: LDL oxidada circulante prediz risco de eventos cardiovasculares adversos maiores em homens com diabetes mellitus tipo 2.

Autora: Viviane Sant Anna.

Coautores: Esteferson Fernandes Rodrigues, Henrique Andrade Rodrigues da Fonseca, Magnus Gidlund, Maria Cristina de Oliveira Izar.

Instituição: Universidade Federal de São Paulo.

Prêmio: Prêmio Dr. Evaldo Melo.

 

Título: Estimativa de custos dos exames coloração de Gram e hemocultura no serviço de microbiologia de um hospital público federal.

Autora: Isadora Bevilaqua Fernandes.

Coautores: Thaís Guimarães de Faria, Luiz Henrique Furbino de Britto, Leonardo de Souza Vasconcellos, Juliana Alvares.

Instituição: Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade de Minas Gerais (HC/UFMG).

Prêmio: Prêmio Dr. Luiz Gastão M. Rosenfeld.

 

Título: Estudo de sensibilidade e especificidade de metodologias para pesquisa de anticorpos IgG anti-RBD do SARS-CoV-2.

Autora: Claudia Maria Meira Dias.

Coautores: José Fernando de Souza, Annelise Correa Wengerkievicz Lopes, Vanessa Vidotto Frade, Gabriela Laginestra Francisco, Daniane Grando Remor Canali, Deise Waltrick, Renata Gonçalves.

Instituição: Dasa

Prêmio: Prêmio Dr. José Carlos Basques.

O 2º Congresso Virtual da SBPC/ML promoveu, ontem (8/9), a palestra “Sequenciamento genético de nova geração”, apresentada pelo Dr. José Eduardo Levi. O médico iniciou comentando que os sequenciadores automatizados começaram a ser utilizados a partir dos anos 2.000. 

De acordo com o médico, o custo do sequenciamento vem caindo exponencialmente em comparação com o custo dos computados. Um sequenciador hoje é capaz de ler 10 bilhões de bases em uma corrida. 

“Uma corrida sequenciaria um genoma humano em 48h. Antes, levava-se anos. É uma evolução gigantesca que permitiu a incorporação do Sequenciamento de Nova Geração (NGS) na rotina”, explicou o médico.

O cell-free DNA, em quantidade pequena, é identificado apenas por técnicas moleculares específicas. Usando a tecnologia de sequenciamento para o pré-natal não invasivo, conforme estudo apresentado pelo especialista, é possível analisar os genes do feto no plasma da mãe. Para isso, é preciso ter pelo menos 10% de DNA do feto. Na detecção de patógenos o desafio é maior, pois é necessário trabalhar com sensibilidades elevadas.

O NIPT se baseia na descoberta de que no plasma da gestante é possível encontrar o DNA do feto – cerca de 11% do DNA apresentado é proveniente do feto, podendo ser aplicável ao diagnóstico intra-útero de Síndrome de Down, por exemplo.

Considerando-se a utilização dessas tecnologias no transplante de órgãos, o órgão transplantado libera DNA para a corrente sanguínea do receptor, podendo ser identificado pelo plasma. A danificação do órgão transplantado é demonstrada pela elevação do cell-free DNA.

Na noite de ontem (8/9), o Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva deu uma aula aos participantes do 2º Congresso Virtual da SBPC/ML sobre “Proteômica e Metabolômica”. O especialista explicou que quando estudamos genômica, analisamos o que pode acontecer, ou o que queremos predizer sobre uma doença.

A proteômica relaciona-se com algo que faz acontecer, ou seja, são as proteínas fazendo acontecer. A metabolômica é a mensuração do que de fato aconteceu, ou seja, estamos mensurando o fenótipo. Hoje se faz a fenotipagem bioquímica das pessoas. 

Ele mencionou sobre a existência, hoje, de bases da literatura no quesito mensuração. Isso quer dizer, por exemplo, que quando é medida a alanina já existe uma equivalência na literatura quanto aos valores aceitáveis. É como se fosse dosar a hemoglobina: essa mensuração usa plasma, soro, tecido cultivo celular, mas no dia a dia o mais usado é o plasma ou soro.  

Coloca-se as amostras na máquina, pulsiona uma energia forte a laser, ioniza as moléculas presentes nas gotas de plasma de modo que sai de um polo a outro, voando ao polo detector. 

“Isso leva um tempo e cada molécula analisada tem um período de voo, de acordo com os fragmentos gerados, e uma intensidade de batida no detector. Assim, nesse tempo, os fragmentos das moléculas analisadas poderão ser mensurados”, explicou o médico. 

Sobre a espectrometria de massa, o Dr. Ismael disse que é uma balança que mede com precisão o “peso” dos íons de determinada substância. Essa abordagem é usada no mundo todo e acerca da fenotipagem bioquímica, ele exemplifica com o teste do pezinho, realizado milhões de vezes atualmente.