A solicitação adequada dos testes para o tema da atividade no 53º CBPC/ML

No final do primeiro dia de atividades do 53ºCBPC/ML, a conferência “Solicitação adequada de exames laboratoriais” trouxe dados sobre overuse (uso abusivo) e underuse (subutilização) dos testes. 

O Dr. André Volschan, médico da unidade de emergência do Hospital Pró-Cardíaco, foi responsável pela exportação sobre o uso limitado dos exames. Em sua exposição, o especialista explorou o conceito de que o diagnóstico está atualizado à medicina moderna, com objetivo de excluir principalmente, principalmente, de rastreamentos.

“Essa prática deve ser otimizada para melhorar a vida do paciente. Quando aplicado sem crítica, o rastreamento pode ser perigoso”, completou André.

Durante sua exposição, Volschan apresentou alguns gráficos que apontam para um aumento significativo da prevalência de doenças, sem observar mortalidade. Ele definiu essa curvatura como a linha de sobrediagnóstico

Foi a de que para cada morte para o câncer de mama, para pacientes com diagnóstico diagnóstico negativo e de 10 a 15 passam por tratamento evitado25. No que tange o PSA, o Dr. André Volschan apresentado como consequências e consequências.

“Fica evidente a falta de diálogo com o paciente sobre os riscos e benefícios”, completou Volschan.

O impacto do uso excessivo dos exames evidencia o tamanho do problema, no total, 30% do desperdício do sistema de assistência à saúde. Ao indagar os participantes sobre qual a tecnologia mais cara da medicina, Volschan foi enfático ao afirmar: “É a caneta do médico”. 

Segundo o médico, “é necessário tolerar a incerteza e unir os jogadores para conseguir uma boa prática de forma diferenciada”. Um vídeo sobre a iniciativa Choose Wisely ilustrou e finalizou a apresentação do especialista. 

O presidente da SBPC/ML, Wilson Shcolnik, foi responsável por apresentar o panorama do underuse dos exames laboratoriais. Sua apresentação evidenciou que a tendência é de que o número de testes tende a aumentar, seguindo a evolução da tecnologia e, principalmente, a acompanhar o aumento da expectativa de vida da população. 

O patologista clínico apresentou através de dados retirados da imprensa que a subutilização dos exames laboratoriais está em pauta há muitos anos.

“Em 2005, já observamos que certificações de autoridades e especialistas de exames laboratoriais do Brasil, se quer comprovadas. Esse dado alarmou o nosso setor, que deveria ser a fonte mais qualificada para tal informação”, completou o presidente da Sociedade.

Shcolnik apresentou que o dado oficial da SBPC/ML, de que apenas 2,4% dos exames laboratoriais não são acessados, contrariando a informação anterior.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que 70% das mortes por câncer nos países da baixa, acontecem em decorrência do diagnóstico tardio. E os exames laboratoriais apenas 2,3% dos custos totais da assistência à saúde nos Estados Unidos. Shcolnik enfatizou a necessidade do uso consciente dos exames laboratoriais e iniciativas que endossam o conceito.

Inovação auxilia o tratamento médico baseado nas características de cada paciente

O avanço da tecnologia vem impactando a área da saúde e aumentando a capacidade do diagnóstico com mais precisão. A medicina personalizada utiliza a inovação para customizar o tratamento médico baseado nas características de cada paciente. 

Andrea Ferreira Gonzalez, presidente da divisão de diagnóstico molecular do departamento de patologia do sistema de saúde da Virgínia Commonwealth University, conduziu a conferência magna no dia 24 de setembro, no 53º CBPC/ML. A especialista abordou os aspectos mais relevantes do diagnóstico molecular. 

A nova disciplina envolve o uso da informação do genoma dos indivíduos como parte do cuidado clínico e a exatidão da medicina utiliza um perfil de genoma individual para auxiliar o médico no tratamento de patologias, na otimização da seleção e dosagem terapêutica, de acordo com o perfil genético de cada indivíduo. Com a tecnologia foi possível implementar o sequenciamento do DNA e consequentemente o desenvolvimento da biologia molecular e o profundo avanço para compreender como o genoma humano funciona e desvendar as bases do genoma da doença humana. 

As aplicações em oncologia na medicina personalizada estão expandindo mais rapidamente do que em qualquer outra. A biópsia liquida, técnica invasiva que permite entender as características do tumor e verificar o melhor tratamento através de uma amostra de sangue, pode monitorar as mudanças genéticas do tumor e analisar em tempo real.

Andrea Gonzalez apontou as tecnologias que se tornarão importantes até 2025 e mencionou os genomas de próxima geração, além da robótica avançada, automação do conhecimento, internet das coisas e cloud.

53°CBPC/ML promove discussão sobre o uso de indicadores para maximizar a decisão na busca de excelência baseada em informação e dados.

Durante o 53°CBPC/ML, foi realizado um Fórum de Benchmarking de Indicadores Laboratoriais com o intuito de ampliar a discussão e a adesão dos laboratórios no Programa de Indicadores e Benchmarking Laboratorial, criado pela SBPC/ML, em parceria com a Controllab.

O programa permite que os laboratórios participantes comparem as melhores práticas por meio de indicadores e permite aos gestores monitorar o desempenho do seu negócio, avaliar pontos fortes e fracos, desenvolver estratégias e melhorar resultados operacionais, a partir de dados estruturados.

O estatístico Pedro Luis do Nascimento Silva, doutor pela University of Southampton e ex-presidente do Instituto Internacional de Estatística, demonstrou como as metodologias Six Sigma e a análise de dados estruturados pode auxiliar o gestor na tomada de decisões estratégicas.

Foi possível ainda ter uma mesa de discussão envolvendo gestores da Qualidade e Membros de Sociedades Científicas nacionais e internacionais, que compartilharam suas percepções e exigências do mercado da medicina laboratorial para uso de métricas e referenciais alinhados com o mercado.

Nadia Krul, professora de Patologia Clínica da Udelar Facultad de Medicina-Hospital de Clínicas, do Uruguai, comentou que em seu país o Ministério de Saúde Pública definiu quatro categorias de indicadores de qualidade, mas que ainda os desafios são muitos para que se tenha uma robustez dessa análise. Ela elogia o modelo criado pela SBPC/ML e Controllab, mas reforça a importância da educação médica continuada, para que os gestores possam cada vez mais ter uma cultura de gestão mais estruturada com dados consolidados de maneira homogênea.

Carlos Rafael Vega Salinas, chefe de Laboratório da Clínica Dávila, único laboratório do Chile com certificação de qualidade nacional e internacional, conta como o Governo chileno se preocupa com a questão da qualidade, mas que a certificação técnica seria mais adequada. Parabenizou a SBPC/ML pela iniciativa conjunta com Controllab, pela forma consolidada dos dados e pela preocupação da entidade em deixar a gestão e armazenamento de dados a cargo da Controllab, empresa responsável na tomada de ações para proteção dos dados dos pacientes.

Wilson Shcolnik, presidente da SBPC/ML, reforçou a importância e cuidados que ambos – SBPC/ML e Controllab – tiveram na forma como serão armazenados os dados, especialmente em época pré LGPD e a razão da SBPC/ML escolher a Controllab.

“Conseguimos demarcar bem a questão da confidencialidade – quem recebe os dados é uma empresa, que está de forma adequada resguardando esta informação – da nossa parte temos que tomar todos os cuidados”, comentou Wilson.

Klever Sáenz, responsável pela Qualidade do Netlab, conta o quão grande é o desafio do Equador, que possui mais de 2.500 laboratórios, mas que foca o uso de indicadores apenas na questão epidemiológica.

João Mariano Pêgo, da Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica, comenta que em Portugal a acreditação é voluntaria e a maioria opta por controles internos e tem a ISO 9001 como sua grande referência. Para eles, os indicadores não são usados de forma tão organizada como o programa do Brasil e ele acredita que as Sociedades Cientificas de cada país terão um papel crucial na implementação de uma cultura para o melhor desenvolvimento dos programas de qualidade.

Antecipação aos riscos e conscientização dos profissionais geram resultados positivos

A mesa redonda que teve o tema Gestão de risco e segurança do paciente, aconteceu no dia 24 de setembro, durante o 53º CBPC/ML e contou com a presença do presidente da Sociedade Brasileira Para Qualidade e Segurança do Paciente, Victor Grabois. 

O executivo ressaltou que a segurança do paciente não é um impasse novo, mas só recentemente houve uma conscientização da magnitude do problema.

“Prevenir a segurança do paciente é muito mais barato do que ‘remediar’ a questão. Existe a necessidade de escolher uma solução que agregue valor para reduzir riscos, danos e consequentemente custos”, comentou Victor.

A complexidade crescente que existe na prestação dos serviços de saúde leva a necessidade de antecipar-se ao risco com um sistema de segurança psicológica, criando uma cultura através de implementações de práticas seguras. Sem conhecer os tipos de erros e de eventos adversos que ocorrem não é possível implementar medidas de prevenção. 

Victor Grabois mencionou alguns eventos adversos no cuidado de saúde que podem ser evitados tais como: infecções associadas aos cuidados com a saúde, complicações cirúrgicas, lesão por pressão, danos por complicações de punção venosa ou ao uso de medicamentos. 

Colocar questões aos profissionais envolvidos no cuidado e dar feedback do paciente e da sua família são métodos eficazes para identificar possíveis problemas. É importante compreender não só o que pode dar errado, mas também como e por quê.

Mas como se faz na prática? Esta foi a palestra da Dra. Laís Vissolto, médica cardiologista especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenadora do Grupo de Emergência do grupo Fleury. Contemplar a extensa capilaridade do laboratório era o desafio que fez com que fosse criado o grupo de segurança e emergência médica. Com o foco na segurança do paciente, foram instituídas estratégias e ações de gestão de risco, conforme as atividades desenvolvidas pelo serviço de saúde. Os processos implementados diminuíram a probabilidade de ocorrência de erros e falhas na operação e facilitou a identificação, prevenção e correção.

A analista de práticas assistenciais em qualidade da segurança do ambiente do hospital Albert Einstein, Lidiane Faccin, falou sobre a criação do sistema de gerenciamento da segurança que requer organização, compromisso e responsabilidade da liderança.

“Implementamos o gerenciamento de risco em tempo real e aumentamos a conscientização de todos os profissionais com a segurança do paciente através de uma comunicação aberta e frequente”, comentou Lidiane.

 

Com auditório cheio, dirigentes e parceiros do evento e uma emocionante apresentação da Orquestra Maré do Amanhã

Sob o tema “Fazendo o futuro acontecer”, foi aberto oficialmente o 53º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. No palco, estavam o Presidente do 53º CBPC/ML,  Eduardo Emery; o Presidente da SBPC/ML, Wilson Shcolnik; a Coordenadora Executiva do 53º CBPC/ML, Claudia Meira; o Coordenador da Comissão Científica, Carlos Eduardo Ferreira; a Coordenadora da Comissão de Julgamento dos Temas Livres, Silvana Maria Eloi Santos; a presidente da Association for Molecular Pathology, Victoria Pratt; o presidente da Confederação Nacional de Saúde, Breno de Figueiredo Monteiro; a primeira vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, Célia Regina da Silva; e o presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, Luiz Fernando Barcelos.

Em sua fala, o presidente da SBPC/ML, Dr. Scholnik cumprimentou a todos e comemorou os 75 anos da SBPC/ML. Mesmo em sua segunda passagem pelo cargo, ele falou em renovação, reforçando os compromissos no combate ao desperdício, além de divulgar o atendimento a transgêneros e o acordo com o Medscape, um portal internacional que oferece acesso a informações médicas para clínicos e formação continuada para médicos e profissionais de saúde.

O presidente celebrou, ainda, diferentes parcerias com instituições como a Fiocruz, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Ele ainda prestou homenagem ao recém-falecido Dr. Hermes Pardini, desejando também sucesso aos futuros diretores da SBPC/ML.

Em fala mais breve, a presidente da Association for Molecular Pathology, Dr.ª Victoria Pratt, disse que essa era sua primeira vez no Rio de Janeiro e que estava muito feliz por participar do evento. Ela reforçou que sua associação, por meio de grupos de trabalho e comitês, apoia diferentes inovações. A norte-americana agradeceu pelo trabalho desenvolvido pela SBPC/ML e declarou esperar que seja apenas uma de muitas colaborações.

Já o Presidente do 53º CBPC/ML, Dr. Eduardo Emery, destacou que esse é o maior evento de medicina laboratorial da América Latina. Ele agradeceu ao Dr. Álvaro Martins, que comandou a instituição entre 2008 e 2009, por ter “aberto as portas” para ele. O dirigente trouxe para a plateia dados como mais de 4 mil participantes inscritos no evento, 237 palestrantes e 97 atividades científicas, entre outros. Após agradecer às empresas parceiras, Dr. Emery reforçou que os congressos da SBPC/ML são “fundamentalmente científicos”. Ele ainda não deixou de lembrar do lançamento do livro “Inovação no laboratório clínico”, com uma série de recomendações da SBPC/ML e distribuído gratuitamente no evento.

No encerramento, a apresentação da Orquestra Maré do Amanhã encantou o público presente com versões instrumentais de músicas consagradas, como o funk carioca “Rap da Felicidade”, “Love of my life”, da banda inglesa Queen, e o tema do filme “O Poderoso Chefão”. A orquestra é um projeto social que atende às 16 favelas do Complexo da Maré, localizado na Zona Norte do Rio. Atualmente, cerca de 3.300 crianças são beneficiadas pelo projeto.